Por vezes queria esquecer que Marcelo Rebelo de Sousa é o Presidente da República. Nem peço muito. Apenas peço que me consiga esquecer do seu estatuto, tantas vezes quantas ele próprio o esquece.
Só admitindo que se esquece do honroso título que carrega, é que se podem aceitar minimamente parte significativa das suas declarações e comentários.
Mas a curta conversa que manteve com o chefe da missão diplomática da Palestina não só não é digna de qualquer Presidente da República, como não é uma posição moralmente aceitável por parte de qualquer ser humano.
Enquanto lhe era transmitida a mensagem de crueldade da ocupação e dos ataques israelitas que já provocaram mais de nove mil mortos na Faixa de Gaza, Marcelo decidiu dizer a brilhante frase: “Eu sei, mas vocês não deviam ter começado”.
Além de revelar uma enorme insensibilidade e ignorância, Marcelo utiliza um lugar-comum de quem branqueia o genocídio em curso, de uma forma infantil e vazia.
“Mas vocês não deviam ter começado”. Mas vocês quem? Estará Marcelo Rebelo de Sousa a confundir o povo palestiniano com o Hamas? E começado o quê? Um povo oprimido há mais de 56 anos é que começou o conflito? E ainda que este argumento pudesse ser levado a sério, este “começo” justifica uma carnificina e uma tentativa de genocídio?
Lamentável. Claro que, enquanto Portugal assistia chocado perante tamanha falta de sensibilidade do Presidente, Ventura e a sua claque fascista aplaudiam as palavras de Marcelo.
Tudo muito triste.
Marcelo, tal como qualquer ser humano com um mínimo de compaixão e empatia, só tem de se juntar a António Guterres e à ONU na denúncia do genocídio e num apelo ao cessar-fogo imediato.
É isto que se espera do Presidente da República de Portugal. Portugal não é uma taberna, e Marcelo não é o seu cliente VIP.
Até para a semana!