Na continuação da crónica da semana passada, continua a análise ao relatório de prestação de contas de 2022.
Para quem não é economista ou gestor, como é o caso da maioria dos eborenses, há uma enorme dificuldade em perceber o que se gastou nas várias atividades mas, principalmente, na grande prioridade do município: a cultura. As atividades repetem-se por várias rubricas e há diferenças na pormenorização dos gastos.
Passo a explicar. Na candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura há uma informação bastante detalhada do que se fez, do que se gastou, que se estende por algumas páginas de fácil compreensão e leitura. A candidatura provavelmente o exigiu (cerca de 600 mil euros executados)
No entanto, tudo o que se refere ao Festival Artes à Rua, Festival Imaterial e ao CENDREV há toda uma nebulosidade que os envolve não sendo possível apurar, num Relatório de Contas, quanto investimento implicou. Porquê?!
Faz-se uma breve referência ao Artes à Rua, mencionando-se o gasto de 100 mil euros numa Call aos agentes artísticos e culturais locais. Quanto a gastos com a contratação de artistas (52 espetáculos de música, dança, teatro, performance, circo contemporâneo e artes visuais) com o garantir as condições adequadas às atuações, quantos eborenses assistiram aos concertos (a maior parte protagonizados por completos desconhecidos), o grau de satisfação e o retorno económico que trouxe para a cidade, nem uma palavra. Quanto ao Festival Imaterial apenas refere que decorreu de 01 a 09 de outubro, em parceria com o INATEL, contou com mais de 140 artistas e 3000 espetadores.
Outro segredo bem guardado é o que se gasta com o Centro Dramático de Évora, CENDREV. Fui ver quantas vezes é mencionado nos dois documentos. O Relatório de Atividades refere “O CENDREV – Centro Dramático de Évora, preparou um espetáculo, que permitiu aos visitantes explorarem o Garcia de Resende” (página 35). O Relatório de Contas “Aproveitando a experiência e o prestígio (…) nomeadamente com a descentralização cultural corporizada pelo Centro Dramático de Évora (hoje, CENDREV) (…), temos vindo a construir as bases para que Évora se afirme como referência cultural.”(página 34).
No mínimo, é estranho, quando sabemos que o CENDREV é a jóia da coroa da cultura subsidiada pela autarquia. Quando se sabe que se gasta milhões com a cultura em Évora. Que é esta a prioridade do município.
Quanto ao Teatro Garcia de Resende, teatro municipal não do CENDREV, passou a integrar no final de 2021 a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses (RTCP) , como tal, após candidatura ao concurso de apoio à programação, recebeu 400 mil euros, cabendo à DGArtes 200 mil e os outros 200 mil ao município. Esperamos que com este financiamento por parte da DGArtes se consiga uma programação diversificada, embora tutelada pelo CENDREV, orientada para públicos diferentes, que chegue aos eborenses, não perdendo qualidade e que garanta uma maior taxa de ocupação do TGR.
Uma questão que muitos eborenses colocam prende-se ao facto do TGR ser um teatro municipal e raramente integrar espetáculos e digressões nacionais de músicos, orquestras, peças de teatro, revistas, comédia. A cultura não é apanágio de alguns. A cultura não pode ser elitista. E, se se deve apostar na cultura erudita e perder dinheiro, não é menos verdade que a programação cultural para TODOS os eborenses pode e deve dar retorno e não só prejuízo aos cofres do município.
E a pergunta é: que percentagem do orçamento se gasta na cultura, em detrimento de outras áreas, para nós, prioritárias para o bem estar dos eborenses?
Não é demagogia. É Cuidar d’Évora.