Em 1999, só metade dos portugueses considerava ‘Mau’ ou ‘Muito Mau’ ser governado por um líder autoritário, que não preste contas ao parlamento. Em 2008, os resistentes eram 41% e no ano passado eram ainda menos, 37%. Apetece pois dizer que meia-dúzia de anos a celebrar o quinquagésimo aniversário do 25 de Abril ainda serão poucos pois, à esquerda e à direita, a pulsão autoritária tem crescido, da sementinha salazarenta que nunca nos abandonou e dos novos ventos populistas que sopram, quer de leste quer do faroeste.
Veja-se a dificuldade de muitos jornalistas, teoricamente pessoas bem informadas, perceberem que as autarquias não autorizam manifestações. Devem ser informadas, com 48 horas de antecedência, pelos promotores, da sua realização. Ponto. Ontem, a propósito do escândalo na CML, ouvi vários jornalistas e um director de jornal falar dos “pedidos de autorização” que a autarquia reenviava para as embaixadas de países visados.
Mas, o próprio facto de, durante 10 anos, ninguém se interrogar sobre a bondade de informar as entidades visadas por manifestações, fossem elas nacionais ou estrangeiras, da identidade e morada dos seus organizadores, é mais do que prova de que a noção de democracia que corre no país está longe de ser consistente.
Sendo, obviamente, grave a partilha dos dados pessoais de manifestantes no caso de ditaduras, o que é mais significativo é que, durante dez anos, ninguém, nem técnicos, nem dirigentes, nem vereadores, se preocupou em assegurar que a Lei de Protecção de Dados fosse cumprida pela autarquia da capital. Resta saber o que se terá passado nas restantes câmaras municipais do país.