Centrar o debate político nas escolhas concretas que dão resposta aos problemas reais da vida dos cidadãos será o grande desafio da campanha eleitoral que se avizinha.
Parece algo tão óbvio e sensato, mas não parece ser a estratégia de uma larga maioria dos partidos. Corremos o sério risco de termos uma campanha vazia de conteúdo e que procurará apelar apenas às emoções mais básicas. Um perigo!
Mas não se prevê outra coisa vinda do PS e do PSD e restante direita.
O PS prepara-se para fazer uma campanha em torno da vitimização, em se apresentar como um tampão para a extrema-direita (que belo tampão que tem sido, não é verdade? Já agora, como se sentirão, agora, aqueles que votaram PS para conter a extrema-direita?), e em termos políticos, uma campanha centrada nas contas certas e no controlo do défice (contas certas que se traduzem na prática num empobrecimento generalizado e numa degradação total dos serviços públicos). Uma campanha que procurará apagar da memória que foi o próprio PS a transformar a estabilidade de uma maioria absoluta na total instabilidade social e política.
E não nos esqueçamos: esta instabilidade social e a política de degradação dos salários e dos serviços públicos tem rostos, dois dos quais apresentam-se, agora, como candidatos à liderança do partido. Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro têm responsabilidade direta na governação que nos trouxe até aqui.
Mas também a direita e a extrema-direita quererão escapar ao debate pelas opções políticas, principalmente porque não têm qualquer alternativa à política seguida pelo PS (veja-se, aliás, como não apresentam uma alternativa séria e concreta ao Orçamento do Estado para 2024). Resta à direita seguir a via do populismo e pelo destaque aos casos mediáticos e trapalhadas do Governo de maioria absoluta.
Sim, uma estratégia populista, porque se olharmos para o passado nunca tiveram uma palavra séria a dizer sobre corrupção e tráfico de influências, ou qualquer proposta que procurasse impedir a promiscuidade entre a gestão pública e os grandes interesses privados.
Esse legado de denúncia da corrupção e do regime de portas giratórias entre público e privado, de proposta contra uma política a saque pelos grandes negócios é legado da esquerda, nomeadamente do Bloco de Esquerda. O povo não tem memória curta e sabe quem sempre esteve do lado certo.
O Bloco de Esquerda não fugirá a esse debate, mas não estará disponível para que se procure atirar areia para os olhos das pessoas. O Bloco de Esquerda apresentará ao país aquilo que os portugueses já se habituaram a esperar de nós: um programa político que responde, com propostas concretas, pelas pessoas. Um programa responsável de alternativa ao falhanço da maioria absoluta do PS. Um programa que responde pelo salário, pela habitação, pelo SNS, pela Escola Pública, por uma Política Industrial Ecológica. Um programa que não deixará ninguém de fora.
Mas sim, exigimos que a investigação judicial em curso que envolve membros do Governo e, principalmente, o primeiro-ministro, seja objeto de esclarecimento público, nomeadamente com uma intervenção da Procuradora-Geral da República que deve apresentar informação sobre a extensão e natureza dos factos que motivaram as suspeitas sobre António Costa. Mas o Bloco de Esquerda nunca contribuirá para apagar a memória coletiva do que mais interessa: O PS foi incapaz de responder pelos trabalhadores que todos os dias perdem salário face ao aumento do custo de vida e que, trabalhando, não escapam ao limiar da pobreza. O PS falhou aos serviços públicos, abandonando os profissionais de educação e não apresentando qualquer estratégia para fortalecer a Escola Pública, assim como abandonou os profissionais de saúde e o investimento estrutural que o SNS tanto necessita. O PS falhou na política da habitação, esquecendo esse direito constitucional, preferindo proteger os vistos gold, os resorts de luxo e o alojamento local, enquanto quem vive do seu salário não consegue aceder a um tecto digno.
O Bloco de Esquerda cá estará. Apresenta-se com a responsabilidade e a coerência de sempre, com um programa sólido que responde pelos serviços públicos e por quem vive ou viveu do seu trabalho. Responder
pelo que importa: aqui estivemos, estamos e estaremos!
Até para a semana!