Vamos de férias das crónicas, mas a central de informação que tem vindo paulatinamente a minar a confiança no Serviço Nacional de Saúde com uma verdadeira barragem de notícias, pequenas, pequeníssimas e grandes, não parece disposta a abrandar o seu trabalho.
Gente que sempre se opôs à existência do SNS anda agora preocupadíssima com as suas falhas e deficiências, explorando até à exaustão qualquer problema que surja no mais recôndito centro de saúde.
Gente que defende que os privados dão melhor resposta desde, claro está, que os encharquemos de dinheiro público que poderia ser utilizado para investir seriamente no SNS, vem agora chorar lágrimas de crocodilo pela ausência de pessoal, pela vetustez e sobrelotação de instalações.
Gente que quando esteve no governo cortou em tudo e mais alguma coisa, clama agora contra a falta de investimento e o depauperar das condições em que o serviço é prestado.
Gente que mandou encerrar centros de saúde, atreve-se agora a lamentar que a ti Maria tenha de fazer 60 km para ir ao médico e sem a garantia de ser atendida.
Gente que defende a existência de um seguro de saúde obrigatório, deduzo que com diversos patamares de assistência conforme as capacidades do segurado, agita-se com o mau funcionamento desta ou daquela unidade de saúde, esquecendo que já existe um “seguro obrigatório” sob a forma de desconto para a segurança social e outro sob a forma de impostos sobre o rendimento.
O Serviço Nacional de Saúde, construção possível pela Constituição de Abril e a que se opuseram desde sempre os herdeiros do tempo da outra senhora, vive dificuldades e constrangimentos que só podem ser honestamente analisados à luz do que foram as políticas de saúde dos governos do famoso arco.
Subfinanciamento, envelhecimento da sua estrutura profissional, ausência de investimento em todas as áreas, das infra-estruturas à contratação de pessoal, promiscuidade entre serviço público e iniciativa privada com claro prejuízo para o serviço público, foram as pedras do caminho que levam hoje a tal gente a afirmar que a universalidade e gratuitidade não é sustentável.
Os trabalhadores do SNS, dos médicos aos assistentes operacionais, que enfrentaram com as suas lutas as arremetidas dos diversos governos continuam nos dias de hoje a assinalar problemas e a propor soluções, sem deixarem de, no seu dia-a-dia, reinventarem respostas para os utentes que deles dependem para o acesso a cuidados de saúde, sem que tenham de exibir qualquer apólice de seguro contratada a quem faz da doença uma questão de oportunidade de mercado.
Ou me engano muito ou vamos ter até Outubro um cerrado ataque ao SNS e o que mais me custa é que as dificuldades e insuficiências são reais e muitas delas criadas pelos que agora pretendem tirar partido das suas consequências.
Vamos então interromper estas crónicas até Outubro com o desejo e a convicção de que os eleitores percebam que os ganhos (ainda que modestos) desta legislatura só podem ser aprofundados com o reforço do tal partido quase centenário, que na noite eleitoral de 2015 afirmou que era possível afastar a direita do poder.
A minha prima Zulmira, mulher de sequeiro, não vos deseja bons banhos mas deseja-vos um óptimo Artes à Rua, porque vêm aí dias e noites fantásticas.
Até Outubro