Para o ano fará 50 anos que o regime democrático fora instaurado em Portugal. Os ideais da liberdade opuseram-se aos ideais do totalitarismo, com a vitória dos primeiros sobre os segundos. Embora, é factual, houve quem tivesse aproveitado a revolução para implementar outro tipo de totalitarismo inspirado no então regime soviético.
Na verdade, o recém regime democrático só obteve condições para poder medrar a partir do dia 25 de novembro 1975. Militares como Jaime Neves e Ramalho Eanes e políticos como Mário Soares e Francisco Sá Carneiro, entre outros, só para citar os principais, foram os verdadeiros guardiões dos valores democráticos a quem o país muito deve.
Contudo, volvidos quase 50 anos da revolução era suposto o país ter o tecido social mais desenvolvido, o tecido económico mais competitivo e menos dependente do Estado e a classe política mais responsável. Os escândalos dos últimos meses vieram trazer à evidência tudo o que não pode estar na fundação de uma democracia liberal.
A mentira, o conluio, o nepotismo e a irresponsabilidade, aparentemente, é denominador comum na elite político-partidária pelas notícias que nos caem todos os dias no regaço. Não gosto de generalizações, há mais pessoas impolutas e dignas do que pessoas sem vergonha, mas há muita gente calada que devia de falar e com assertividade.
Eu pergunto: a ser verdade o que se escreve e diz sobre alguns ministros, alguns secretários de estado e alguns dirigentes partidários, não se impõe tirar consequências políticas desta confusão sem nome? O regular funcionamento das instituições está, inequivocamente, em causa.
Ora, cabe ao Presidente da República avaliar a situação política atual e decidir. Urge, portanto, fazer-se o debate do estado da democracia portuguesa e submeter o resultado a eleições. Retardar essa decisão é acentuar a negritude do futuro do país.