Abdul perdeu a mulher num incêndio, num campo de refugiados na ilha de Lesbos, na Grécia. Abdul, jovem afegão, chegou a Portugal com três filhos pequenos à sua guarda. Um especialista em Estudos Islâmicos, alerta, no Observador, “para o pouco cuidado que é dado à saúde mental” de quem chega, traumatizado, de um campo de refugiados. “Estes não são assuntos que [tenham] a ver com a crença, nem com a religião”. Numa linha semelhante, o Presidente da República, explica: “há pessoas que, na vida, num determinado momento, são determinadas por motivos pessoais e reagem de uma determinada maneira”, logo acrescentando, porém, que “nada justifica um acto criminoso como este”.
Abdul estava na aula de português, no Centro Ismaili, quando terá recebido um telefonema que o exaltou. De seguida, atacou o professor e, na sala ao lado, matou duas mulheres com um facalhão. Coitado do Abdul, sofre de perturbação pós-stress traumático e, segundo a Unidade Nacional de Contra-Terrorismo da Polícia Judiciária, as suspeitas de terrorismo estão afastadas a 90%. Porque, até agora, não se detectou discurso de ódio ou indícios de radicalização religiosa. Portanto, Mariana e Farana não foram vítimas de um crime de ódio ou terrorista. Tratou-se, simplesmente, de um problema de saúde mental, uma desorientação, um desespero, que fez Abdul usar a faca que levara para a aula de português.
Resta descobrir quem lhe telefonou, o teor do telefonema e por que razão Abdul tinha um voo para Zurique, marcado para hoje. O que é certo é que, hoje, por causa de Abdul, compareceram no Centro Ismaili, Marcelo e Costa, e ainda os ministros da Administração Interna, dos Negócios Estrangeiros e da Justiça. Igual sorte não teve o avô da pequena Lara, depois de a matar à facada, no dia 14 deste mês.