Viva
Já não existem palavras aveludadas, estas apenas refletem mágoa e revolta. Os escritos já só conseguem exprimir realidades obscenas e sentimentos marcados pela insubmissão.
Enquanto se exuberam essências, as catarses coletivas vão-se impondo pelo mundo fora.
E o Catar impôs-se.
Uma onda de contestação, a nível global, nada adiantou. As palavras possuem um peso insignificante.
Gostava de vos levar a ver, ou de vos mostrar aquilo que já todos sabemos existir: os mortos e os feridos, são “apenas” os danos colaterais.
E aí vamos nós a caminho do Catar.
País dominado pela dinastia Al Thani, governado por castas, o Catar é um reflexo do que o futebol se tornou. Com mais de 6500 mortos, durante a construção dos espaços desportivos, maioritariamente migrantes com origem no Paquistão, Filipinas, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka, não será razão suficiente para que se justifique um boicote na ação, e não só em belos discurso?
A discriminação contra as mulheres, a desigualdade de género e a violência contra comunidade LGBTQI+, são outras das realidades que só por si justificavam uma maior contestação; já para não falar da corrupção instituída.
Protesta-se, mas todos vão marcar presença.
Enquanto os cárceres sociais continuam, a cretinice mantém-se.
Mas não só os direitos humanos são desrespeitados.
Também as questões ambientais estão a ser largamente esquecidas, escondidas e falseadas, informações fraudulentas são constantemente difundidas. Sendo um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa, possui, em simultâneo, um cadastro ambiental desprezível.
O Catar domina os média e, quando o Mundial terminar, tudo volta ao esquecimento e o status quo permanecerá até à próxima investida.
Um Mundial construído sobre sucessivas violações dos Direitos Humanos (hoje foram enforcados 7 cidadãos), sobre frequentes práticas de racismo, de apartheid social e de crimes ambientais, não merece qualquer tipo de respeito. O constante olhar para o lado por parte dos países ocidentais, escondendo-se por detrás de sucessivas crises masturbatórias, vão protelando o inadiável.
A contínua relativização destas políticas não depende, apenas dos regimes que as sustentam. Enquanto tudo acontece, na ONU acerbam-se discussões que nada resolvem.
Uma “guerra” onde só um lado possui armas, não é uma guerra, é um genocídio. Vive-se num estado de “guerra” permanente numa terra onde as gentes esquecidas carregam a razão.
São décadas de atentados banalizados pelo tempo.
Enquanto tudo isto acontece, o meu acervo dos sonhos vai-se esgotando e, chegar a acordo com o tempo, começa a não estar nos meus planos.
Saudações LIVRE’s
Até para a semana.