Uma fraude consentida

Crónica de Opinião
Sexta-feira, 18 Novembro 2022
Uma fraude consentida
  • Glória Franco

 

Viva

Já não existem palavras aveludadas, estas apenas refletem mágoa e revolta. Os escritos já só conseguem exprimir realidades obscenas e sentimentos marcados pela insubmissão.

Enquanto se exuberam essências, as catarses coletivas vão-se impondo pelo mundo fora.

E o Catar impôs-se.

Uma onda de contestação, a nível global, nada adiantou. As palavras possuem um peso insignificante.

Gostava de vos levar a ver, ou de vos mostrar aquilo que já todos sabemos existir: os mortos e os feridos, são “apenas” os danos colaterais.

E aí vamos nós a caminho do Catar.

País dominado pela dinastia Al Thani, governado por castas, o Catar é um reflexo do que o futebol se tornou. Com mais de 6500 mortos, durante a construção dos espaços desportivos, maioritariamente migrantes com origem no Paquistão, Filipinas, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka, não será razão suficiente para que se justifique um boicote na ação, e não só em belos discurso?

A discriminação contra as mulheres, a desigualdade de género e a violência contra comunidade LGBTQI+, são outras das realidades que só por si justificavam uma maior contestação; já para não falar da corrupção instituída.

Protesta-se, mas todos vão marcar presença.

Enquanto os cárceres sociais continuam, a cretinice mantém-se.

Mas não só os direitos humanos são desrespeitados.

Também as questões ambientais estão a ser largamente esquecidas, escondidas e falseadas, informações fraudulentas são constantemente difundidas. Sendo um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa, possui, em simultâneo, um cadastro ambiental desprezível.

O Catar domina os média e, quando o Mundial terminar, tudo volta ao esquecimento e o status quo permanecerá até à próxima investida.

Um Mundial construído sobre sucessivas violações dos Direitos Humanos (hoje foram enforcados 7 cidadãos), sobre frequentes práticas de racismo, de apartheid social e de crimes ambientais, não merece qualquer tipo de respeito. O constante olhar para o lado por parte dos países ocidentais, escondendo-se por detrás de sucessivas crises masturbatórias, vão protelando o inadiável.

A contínua relativização destas políticas não depende, apenas dos regimes que as sustentam. Enquanto tudo acontece, na ONU acerbam-se discussões que nada resolvem.

Uma “guerra” onde só um lado possui armas, não é uma guerra, é um genocídio. Vive-se num estado de “guerra” permanente numa terra onde as gentes esquecidas carregam a razão.

São décadas de atentados banalizados pelo tempo.

Enquanto tudo isto acontece, o meu acervo dos sonhos vai-se esgotando e, chegar a acordo com o tempo, começa a não estar nos meus planos. 

Saudações LIVRE’s

Até para a semana.  

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