Ontem à tarde, dei por mim a ouvir a conferência de imprensa de António Costa, à saída do conselho de ministros, anunciando e justificando a passagem do país, em Outubro, a uma nova fase de desconfinamento. Seguiu-se o habitual tempo de perguntas dos jornalistas e hábeis respostas do primeiro-ministro, geralmente sem grande história.
Ontem, porém, aconteceu algo de inusitado (eu, pelo menos, não me lembro de ter assistido a coisa semelhante). O repórter de um canal de TV, depois de fazer uma pergunta inócua sobre a vacina e o futuro dos centros de vacinação, sai-se com esta (e vou citar ipsis verbis): “…e se me permitir regressar aqui às acusações de eleitoralismo, já recordou que estes, hum, calendários estavam definidos desde Julho, que eram do conhecimento de todos, apenas dependentes desta meta dos 85% de vacinados. O que eu lhe pergunto é se não há aqui um efeito boomerang, que quem o acusa de eleitoralismo é que está a ser eleitoralista?”.
Como quem diz: – Senhor primeiro-ministro, não tive uma boa ideia… acusar de eleitoralismo quem o acusa de eleitoralista? Quem é que faz boas perguntas, quem é?
Até António Costa se incomodou com a sabujice da pergunta e sacudiu-a com um “Ah, não vou entrar nesse… não vou entrar nesse debate”, mudando imediatamente de assunto. Para quem tenha dúvidas, sendo um sabujo um cão de montaria, diz-nos o dicionário que, em sentido figurado, é um indivíduo servil, bajulador, capacho, lambe-botas.